quarta-feira, 10 de julho de 2013

A Emigração Portuguesa

A atual vaga de emigração poderá servir de “válvula de escape” para a crise mas também poderá causar “graves problemas” para a evolução futura da economia,.

Não há números exatos para a emigração nos últimos anos, mas é consensual que o fluxo de portugueses para o estrangeiro está a ser muito significativo.
O Governo, estimou recentemente que entre 100 mil e 120 mil portugueses abandonaram o país em 2011, e que o número poderá ter aumentado este ano. Este número é muito significativo num país com uma população como Portugal: 1% da população.
Ora, quais são as consequências para a economia de um país que perde 1% dos seus habitantes por ano? O primeiro economista a debruçar-se especificamente sobre este tema foi o atual ministro da Economia, Álvaro Santos Pereira.
Em 2010, Santos Pereira (então professor universitário em Vancouver, no Canadá) publicou um livro onde questionava os números oficiais sobre as saídas de portugueses para o estrangeiro.
Segundo Santos Pereira, ainda antes da agudização da crise económica já estava em curso uma vaga de emigração só comparável à dos anos 1960 e 70: pelos números do atual ministro, 700 mil portugueses emigraram entre 1998 e 2008.
“A questão dos novos fluxos de emigração não está a ser tomada em conta pelo Governo português e terá um efeito grave”, disse Santos Pereira à Lusa em 2010. O agora responsável pela pasta do Emprego no Governo alertava para os efeitos da emigração sobre a sustentabilidade da Segurança Social, e para os riscos da ‘fuga de cérebros’.
“Portugal é o segundo país da OCDE [Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico] com maior fuga de cérebros, a seguir à Irlanda”, disse Santos Pereira.
O economista João Ferreira do Amaral vê um “problema muito grande para o futuro” nesta vaga de emigração: o envelhecimento da população.
“Os que ficam são os mais velhos. Isto é muito problemático para o futuro do Estado social”,
Há, contudo, opiniões diferentes sobre os impactos da emigração: “Todos os estudos sobre a emigração mostram que toda a gente ganha com ela – o país de onde se emigra, o país que recebe e, normalmente, a pessoa que emigra também”, disse à Lusa João César das Neves, professor na Universidade Católica. “É dos poucos consensos que temos na análise económica.”
César das Neves recorda os “enormes custos pessoais e humanos” da emigração, mas garante que o fluxo para o estrangeiro funciona como uma “válvula de escape” em tempos de crise.
O economista rejeita que a emigração ponha em risco a sustentabilidade da Segurança Social: “O envelhecimento da população é um fenómeno estrutural, não tem nada a ver com isto. O problema fundamental é não termos filhos.”
César das Neves considera também que a saída de uma geração qualificada não é necessariamente grave: “São pessoas sem emprego em Portugal. Quando encontramos oportunidades para elas, regressarão. Não é coisa com que devamos estar preocupados.”
Teodora Cardoso, presidente do Conselho de Finanças Públicas, discorda totalmente desta visão: “Portugal não se reformou nem se desenvolveu mais [nos anos 1960 e 70] precisamente porque conseguia exportar mão-de-obra.”
Cardoso nota ainda que, ao contrário da vaga de emigração anterior, “o emprego que agora emigra é qualificado”, lamentando que se tenha “investido na educação destas pessoas e agora elas veem-se obrigadas a procurar emprego noutro país.”

A atual vaga de emigração poderá representar uma redução no desemprego e um aumento das remessas, mas os dados conhecidos são insuficientes para fazer previsões eficazes sobre o impacto dos fluxos migratórios, segundo economistas consultados pela Lusa.
Não há números exatos para a emigração nos últimos anos. O secretário de Estado das Comunidades, José Cesário, estimou recentemente que entre 100 mil e 120 mil portugueses abandonaram o país em 2011, e que o número poderá ter aumentado este ano. Este número é muito significativo num país com uma população como Portugal: 1% da população.
No curto prazo, uma emigração tão significativa poderá ter impactos a nível do emprego ou da balança corrente.
“Em termos imediatos, não havendo retoma e não havendo necessidade de aumentar o emprego por parte das empresas, a saída das pessoas significa uma taxa de desemprego menor do que se não houvesse emigração”, disse à Lusa o economista João Ferreira do Amaral.
“Há uma grande destruição de emprego, e se houve emigração, compensa em parte. Agora, se estes novos emigrantes vão fazer o que fizeram os antecessores nos anos 1960 e 1970 em termos de remessas, isso é mais duvidoso”, creio que nesse aspeto os efeitos não serão muito grandes.”
O impacto sobre o consumo será diminuto: “Em termos de consumo, o que é relevante é os rendimentos. As pessoas que saem, em princípio, não tinham rendimentos cá. Se enviarem remessas, elas tenderão a ser poupadas, e não consumidas.”
Considero que “não se pode extrapolar de casos anteriores”, porque a atual conjuntura e a composição da economia portuguesa são “muito diferentes” das de há meio século.
“É preciso fazer um estudo sobre o assunto. Mas, em princípio, [a emigração] vai ajustar a economia à realidade. Portugal terá menos desemprego, e poderemos dar o ‘salto’ para um novo surto de desenvolvimento”,
Eu rejeito olhar para o problema numa perspectiva de curto prazo: “Não é por se irem embora tantas pessoas e o consumo e as importações se reduzirem um bocadinho que vamos resolver algum problema. Não é exportando emprego que se ganha desenvolvimento. Mesmo que resolvêssemos um problema de curto prazo, podemos estar a criar mais dificuldades futuras. O mal do passado foi termos vistas tão curtas.”

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