sexta-feira, 19 de julho de 2013

Crise da zona euro

O alerta de Hegel mais atual que nunca


Todos os políticos deviam ler “Fenomenologia do Espírito”, de Hegel, escrito há dois séculos, para entenderem a crise do euro. Defendia ele que a prosperidade não é a resposta para tudo e que os cidadãos também precisam de encontrar reconhecimento na democracia.


Provavelmente, nenhum livro foi tão frequentemente acusado de ser ilegível. No entanto, Fenomenologia do Espírito, de Georg Wilhelm Friedrich Hegel (1770-1831),  Embora de leitura difícil, este clássico da filosofia (publicado em 1807) ajuda a entender a presente crise do euro. O livro sugere que os políticos nunca vão ser bem-sucedidos enquanto continuarem a pensar na crise como um problema exclusivamente económico.

A reação de Martin Schulz, presidente do Parlamento Europeu, ao plano da Grã-Bretanha para realizar um referendo sobre a sua adesão à UE é ilustrativo a esse respeito. Um mau plano, segundo Schulz: “A Europa ‘à la carte’ de Cameron não é uma opção. Temos de nos concentrar em emprego e crescimento, e não em intermináveis debates sobre tratados europeus”.
A UE é considerada uma fonte de prosperidade. Esta conceção é amplamente partilhada pelos responsáveis políticos, nomeadamente na Holanda pelo primeiro-ministro Mark Rutte, “
Lendo Hegel, fica claro que a ênfase no euro resulta de um erro de avaliação. Quanto maior a riqueza, maior o apoio à União Europeia? Não é assim que as coisas funcionam, explicava o filósofo alemão há 200 anos.
Ser visto e ouvido é quase mais importante para nós do que respirarQuem deseje entender a crise do euro pode ficar pela longa passagem sobre a luta pelo reconhecimento em que as pessoas se encontram. Ser visto e ouvido é quase mais importante para nós do que respirar. A fome de reconhecimento leva automaticamente a conflitos. A relação de duas pessoas, a “dialética do senhor-escravo”, pertence a Hegel como o “Übermensch” pertence a Friedrich Nietzsche e a banalidade do mal a Hannah Arendt. O escravo nunca pode dar ao mestre o reconhecimento que deseja. O verdadeiro reconhecimento não pode ser imposto.
A prazo, a relação hierárquica entre mestre e escravo é insustentável. Na visão de Hegel, o senhor e o escravo abriram o caminho para uma sociedade em que todos os cidadãos têm os mesmos direitos: a democracia. Quase 200 anos depois, o filósofo norte-americano Francis Fukuyama teorizava sobre este ponto de vista. Quando proclamou o fim da história, apontou para a democracia como a forma de governação que melhor preenche a necessidade de reconhecimento. As eleições não são apenas uma forma de regular a transferência de poder. O facto de os cidadãos poderem ter uma palavra a dizer é igualmente importante.

Desvalorizar a participação política

No entanto, a crise do euro ensina-nos que pessoas profundamente democráticas são difíceis de encontrar. Martin Schulz, presidente do organismo que deveria simbolizar a democracia, reduz o referendo britânico a uma questão administrativa, que sobretudo leva imenso tempo. Isso desvaloriza a participação política para o nível de um luxo, aceitável quando tudo corre bem, inconveniente no meio de uma crise.
No entanto, à sua maneira, Schulz defende uma sociedade baseada na igualdade. Acredita que os países da Europa do Norte (ricos) têm de ajudar os do Sul (pobres), através de uma vasta gama de medidas de apoio. Daí resulta uma maior igualdade, embora não do tipo previsto por Hegel, mais a que Karl Marx defendia em meados do século XIX.

O dinheiro não é a resposta

Temos cada vez mais vindo a ler o livro de Hegel através dos olhos de Marx, para quem os problemas indiciam, antes de mais, um defeito económico. Muitos políticos raciocinam desta forma. Se o eleitorado se queixa, isso tem fundamentalmente a ver com prosperidade. Assim se chegou à conclusão de que o euro é o mais importante instrumento à sua disposição. Resolvem a insatisfação com um subsídio aqui e um incentivo financeiro ali. O pressuposto tácito é que o comportamento de voto dos eleitores é determinado principalmente pela sua carteira.
Quem reduz os cidadãos a nada mais do que um ‘homo economicus’ cria um ponto cego Quem reduz os cidadãos a nada mais do que um ‘homo economicus’ cria um ponto cego. Torna-se difícil perceber que os cidadãos possam ser motivados por algo diferente de fatores económicos.  É improvável que essa desconfiança desapareça com o cenário de Schulz de mais empregos e crescimento. Com Hegel em mente, é bem possível que os cidadãos estejam dispostos a desistir de alguma prosperidade, se isso significar que permanecem donos do seu próprio destino.

Amor duvidoso pela democracia

As pessoas estão muito preocupadas com o respeito pela democracia na União Europeia. Além disso, os políticos têm dado motivos para duvidar do seu amor pela democracia. O primeiro-ministro do Luxemburgo, Jean-Claude Juncker, até há pouco dirigente do Eurogrupo, disse recentemente à revista alemã Der Spiegel que “se for necessário, [os políticos] têm de prosseguir as políticas corretas, mesmo que muitos eleitores pensem que estão erradas”.
Aparentemente, a democracia é aceitável, desde que produza os resultados eleitorais corretos. Para os políticos, Fenomenologia do Espírito deveria servir de alerta. Com a crise do euro em pleno curso, o livro não poderia ter sido publicado em melhor momento


quarta-feira, 10 de julho de 2013

A Emigração Portuguesa

A atual vaga de emigração poderá servir de “válvula de escape” para a crise mas também poderá causar “graves problemas” para a evolução futura da economia,.

Não há números exatos para a emigração nos últimos anos, mas é consensual que o fluxo de portugueses para o estrangeiro está a ser muito significativo.
O Governo, estimou recentemente que entre 100 mil e 120 mil portugueses abandonaram o país em 2011, e que o número poderá ter aumentado este ano. Este número é muito significativo num país com uma população como Portugal: 1% da população.
Ora, quais são as consequências para a economia de um país que perde 1% dos seus habitantes por ano? O primeiro economista a debruçar-se especificamente sobre este tema foi o atual ministro da Economia, Álvaro Santos Pereira.
Em 2010, Santos Pereira (então professor universitário em Vancouver, no Canadá) publicou um livro onde questionava os números oficiais sobre as saídas de portugueses para o estrangeiro.
Segundo Santos Pereira, ainda antes da agudização da crise económica já estava em curso uma vaga de emigração só comparável à dos anos 1960 e 70: pelos números do atual ministro, 700 mil portugueses emigraram entre 1998 e 2008.
“A questão dos novos fluxos de emigração não está a ser tomada em conta pelo Governo português e terá um efeito grave”, disse Santos Pereira à Lusa em 2010. O agora responsável pela pasta do Emprego no Governo alertava para os efeitos da emigração sobre a sustentabilidade da Segurança Social, e para os riscos da ‘fuga de cérebros’.
“Portugal é o segundo país da OCDE [Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico] com maior fuga de cérebros, a seguir à Irlanda”, disse Santos Pereira.
O economista João Ferreira do Amaral vê um “problema muito grande para o futuro” nesta vaga de emigração: o envelhecimento da população.
“Os que ficam são os mais velhos. Isto é muito problemático para o futuro do Estado social”,
Há, contudo, opiniões diferentes sobre os impactos da emigração: “Todos os estudos sobre a emigração mostram que toda a gente ganha com ela – o país de onde se emigra, o país que recebe e, normalmente, a pessoa que emigra também”, disse à Lusa João César das Neves, professor na Universidade Católica. “É dos poucos consensos que temos na análise económica.”
César das Neves recorda os “enormes custos pessoais e humanos” da emigração, mas garante que o fluxo para o estrangeiro funciona como uma “válvula de escape” em tempos de crise.
O economista rejeita que a emigração ponha em risco a sustentabilidade da Segurança Social: “O envelhecimento da população é um fenómeno estrutural, não tem nada a ver com isto. O problema fundamental é não termos filhos.”
César das Neves considera também que a saída de uma geração qualificada não é necessariamente grave: “São pessoas sem emprego em Portugal. Quando encontramos oportunidades para elas, regressarão. Não é coisa com que devamos estar preocupados.”
Teodora Cardoso, presidente do Conselho de Finanças Públicas, discorda totalmente desta visão: “Portugal não se reformou nem se desenvolveu mais [nos anos 1960 e 70] precisamente porque conseguia exportar mão-de-obra.”
Cardoso nota ainda que, ao contrário da vaga de emigração anterior, “o emprego que agora emigra é qualificado”, lamentando que se tenha “investido na educação destas pessoas e agora elas veem-se obrigadas a procurar emprego noutro país.”

A atual vaga de emigração poderá representar uma redução no desemprego e um aumento das remessas, mas os dados conhecidos são insuficientes para fazer previsões eficazes sobre o impacto dos fluxos migratórios, segundo economistas consultados pela Lusa.
Não há números exatos para a emigração nos últimos anos. O secretário de Estado das Comunidades, José Cesário, estimou recentemente que entre 100 mil e 120 mil portugueses abandonaram o país em 2011, e que o número poderá ter aumentado este ano. Este número é muito significativo num país com uma população como Portugal: 1% da população.
No curto prazo, uma emigração tão significativa poderá ter impactos a nível do emprego ou da balança corrente.
“Em termos imediatos, não havendo retoma e não havendo necessidade de aumentar o emprego por parte das empresas, a saída das pessoas significa uma taxa de desemprego menor do que se não houvesse emigração”, disse à Lusa o economista João Ferreira do Amaral.
“Há uma grande destruição de emprego, e se houve emigração, compensa em parte. Agora, se estes novos emigrantes vão fazer o que fizeram os antecessores nos anos 1960 e 1970 em termos de remessas, isso é mais duvidoso”, creio que nesse aspeto os efeitos não serão muito grandes.”
O impacto sobre o consumo será diminuto: “Em termos de consumo, o que é relevante é os rendimentos. As pessoas que saem, em princípio, não tinham rendimentos cá. Se enviarem remessas, elas tenderão a ser poupadas, e não consumidas.”
Considero que “não se pode extrapolar de casos anteriores”, porque a atual conjuntura e a composição da economia portuguesa são “muito diferentes” das de há meio século.
“É preciso fazer um estudo sobre o assunto. Mas, em princípio, [a emigração] vai ajustar a economia à realidade. Portugal terá menos desemprego, e poderemos dar o ‘salto’ para um novo surto de desenvolvimento”,
Eu rejeito olhar para o problema numa perspectiva de curto prazo: “Não é por se irem embora tantas pessoas e o consumo e as importações se reduzirem um bocadinho que vamos resolver algum problema. Não é exportando emprego que se ganha desenvolvimento. Mesmo que resolvêssemos um problema de curto prazo, podemos estar a criar mais dificuldades futuras. O mal do passado foi termos vistas tão curtas.”

quinta-feira, 4 de julho de 2013

O Colapso do Governo !!!

A vida pública em Portugal, a crise econômica em curso produziu uma outra política.




Se os actuais colapso do governo, que de repente parece provável, não há nenhuma garantia de que um uma alternativa se sairá melhor. O país está em crise.
A partir de hoje, em um cenário de mudança rápida, o Presidente Aníbal Cavaco Silva é desafiado com intermediação de um acordo que irá manter o governo em conjunto e evitar a necessidade de uma outra eleição piscar de olhos.
O último governo socialista de José Sócrates foi forçado a sair em 2011, quando todos os partidos da oposição rejeitaram cortes de gastos e aumentos de impostos propostos como excessiva.
Os partidos da oposição está nivelando a mesma crítica contra a corrente altamente impopular governo de centro-direita de Pedro Passos Coelho. Ao contrário de Sócrates 'governo de minoria, a coalizão de Passos Coelho parecia seguro, porque tinha uma maioria confortável no Parlamento.
Mesmo durante a greve geral da semana passada e manifestações anti-austeridade, parecia haver pouca probabilidade de o governo entrar em colapso. Mas uma semana é muito tempo na política ...
Tudo mudou de repente, com a renúncia de Paulo Portas, ministro dos Negócios Estrangeiros e líder do sócio minoritário da coalizão, o partido CDS-PP de direita. Ele veio menos de 24 horas depois de Vitor Gaspar renunciou ao cargo de ministro das Finanças. Dois outros ministros da coalizão estão supostamente definido para seguir. Sem a coligação, o governo perde a sua maioria.
Em um convocada às pressas endereço TV à nação, Passos Coelho (direita) prometeu lutar. "Comigo, o país não vai escolher colapso político, econômico e social. Há muito trabalho a ser feito e temos que colher os frutos do que semeou com tanto esforço ", disse ele.
Uma nova eleição, dois anos antes do que o previsto, pode ser a única opção aberta. Seria quase certamente voltar os socialistas de centro-esquerda ao poder, mas novamente provavelmente sem maioria.
As outras duas partes - os comunistas eo Bloco de Esquerda - não são susceptíveis de fazer qualquer acordo com os socialistas, dizem os analistas, o que significa que o próximo governo mais uma vez vai precisar de apoio CDS-PP.
No meio de toda a confusão, os preços das ações despencaram e os rendimentos de títulos subiram. Enquanto isso, na balança é o compromisso de Portugal com os termos de € 78000000000 resgate. Representantes da "troika" está previsto para começar a sua próxima revisão da economia em Lisboa, a 15 de Julho.