terça-feira, 2 de abril de 2013

A Europa caracteriza-se pela a crise”

Finanças degradadas, sociedades desestabilizadas, projeto comunitário enfraquecido: o mal-estar que afeta a UE há vários anos é multifacetado. Agora que, no regresso das férias, decisões importantes esperam os dirigentes e os cidadãos europeus, 

Há 60 anos, que a Comunidade Europeia tem andado quase sempre a tropeçar de crise em crise. As recaídas fazem parte do seu funcionamento normal.
A era moderna europeia é caracterizada por um sentimento de crise. Daí, poder tirar-se a conclusão geral de que a Europa não é realmente um estado ou uma comunidade, no sentido nacional, que cresce em conjunto organicamente. Também não pode ser comparada com as antigas cidades-Estado gregas, que, apesar das diferenças e rivalidades, formavam uma única unidade cultural.
Os países europeus também estão vinculados por aspetos culturais partilhados. Existe algo a que se possa chamar espírito europeu?
As nações europeias não são iguais e é por isso que não podem ser misturadas. O que as une não é uma comunidade, mas um modelo de sociedade. Há uma civilização europeia e uma forma ocidental de pensar.
Quais as suas características?
Dos gregos – de Sócrates a Platão e a Aristóteles –, a filosofia ocidental herdou dois princípios fundamentais: o homem não é a medida de todas as coisas; e não é imune ao fracasso e ao mal. No entanto, é responsável por si mesmo e por tudo o que faz ou evita fazer. A aventura da Humanidade é uma criação humana ininterrupta. Deus não participa nela.
Falibilidade e liberdade. Mas esses aspetos fundamentais da história intelectual europeia bastam para criar uma união política permanente?
A Europa nunca foi uma entidade nacional, nem mesmo na Idade Média cristã. A cristandade permaneceu sempre dividida – a romana, a grega e depois a protestante. Um Estado federal europeu ou uma confederação europeia é um objetivo distante, congelado na abstração do termo. Considero que persegui-lo é um objetivo errado.
Estará a União Europeia a correr atrás de uma utopia, tanto em termos políticos como históricos?
Os fundadores da UE gostavam de invocar o mito carolíngio, e até deram a um prémio da UE o nome de Carlos Magno. Mas, na verdade, os netos dele acabaram por dividir o império. A Europa é uma unidade na divisão ou uma divisão na unidade. Porém, independentemente da maneira como se encare, não é, claramente, uma comunidade em termos de religião, língua ou moral.
E no entanto, subsiste. O que o leva isso a concluir?
A crise da União Europeia é um sintoma da sua civilização. Não se define com base numa identidade própria, mas na sua alteridade. A civilização não é necessariamente baseada num desejo comum de alcançar o melhor, mas antes na exclusão do mal e em torná-lo tabu. Em termos históricos, a União Europeia é uma reação defensiva ao horror.

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