quarta-feira, 24 de abril de 2013

Crise da zona euro

 Europa deve aprender com a América Latina


A crise da dívida deixa a zona euro numa situação idêntica à que a América Latina conheceu na década de 1990. Para uma solução mais rápida, os europeus deviam tirar ilações dos erros cometidos nesta época

Prometer a um país austeridade quase perpétua não funciona

Além disso – e isto é muito importante – inclui cortes na despesa pública e austeridade mas, também, uma distribuição justa dos custos do ajustamento económico entre os diferentes grupos sociais, o reforço das redes de segurança social para os mais vulneráveis, reformas estruturais capazes de gerar mais emprego e, sobretudo, esperança num futuro melhor.
Lamentavelmente, a tentação de evitar um pacote amplo e coerente é tão forte como o efeito salutar deste. Na América Latina, o erro mais recorrente foi tentar resolver a crise com medidas parciais e fragmentadas e pensar que é possível adiar indefinidamente as decisões mais impopulares. É isso que tem estado a passar-se na Europa.
Basta ver o que está a acontecer em Itália ou na Grécia para reconhecermos a experiência da Argentina, por exemplo. Contudo, mais cedo ou mais tarde, a realidade impõe-se e as medidas parciais fracassam. Isto abre caminho para a realização de esforços simultâneos nas áreas afetadas da economia: dívida excessiva e despesa pública descontrolada, bancos pouco capitalizados e mal regulamentados, políticas orçamentais e monetárias descoordenadas, baixa competitividade internacional e leis que inibem o investimento e a criação de emprego.
Atacar um ou vários destes males, sem tocar nos restantes não funciona. E prometer a um país austeridade quase perpétua para pagar as dívidas ao estrangeiro também não.

Europa pode aprender com os nossos erros e correções

Quando afirmam depreciativamente que a Europa está a ficar parecida com a América Latina, os críticos que fazem tal observação têm em mente a América Latina do passado, a que sofreu crises económicas em série. Mas há outra maneira de encarar a questão: o melhor que poderia acontecer à Europa era ficar parecida com a América Latina de hoje.
A que soube navegar por entre a crise mundial sem perder o rumo, que gere as suas finanças públicas com prudência e sabe regulamentar a banca. Nos últimos anos, os melhores países da região – o Brasil, o Chile e a Colômbia, entre outros – têm crescido, criado emprego e ampliado a sua classe média.
Além disso, e para surpresa de muitos, "a América Latina tem hoje o sistema financeiro mais sólido do mundo", segundo afirma José Juan Ruiz, economista do Banco Santander e atento observador da situação financeira mundial.
Não se trata de a Europa estar a caminhar para a pobreza, a desigualdade, a corrupção e a violência tão comuns na América Latina. Trata-se de a Europa aprender com os erros e as correções de uma região que sabe mais do qualquer outra sobre crises económicas, colapsos bancários, choques externos e efeitos de gastos descontrolados, forte endividamento e promessas vãs do populismo.
Oxalá a Europa consiga gerir a sua crise, como a nova América Latina aprendeu a fazê-lo. Neste sentido, falar de latino-americanização da Europa é um bom desejo.

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